quinta-feira, 22 de abril de 2010

Stanley Kubrick - Fotógrafo











Stanley Kubrick é conhecido pela sua carreira como realizador de filmes como 2001: Odisseia no Espaço, Laranja Mecânica, Barry Lyndon ou Shining, mas poucos conhecem a sua faceta como fotógrafo profissional da defunta revista Look. A Look era então muito conhecida por dar nas suas reportagens mais ênfase às fotos do que aos textos. A revista foi fundada em 1937, Kubrick admitido em 1945, o último número publicado a 19 de Outubro de 1971.

O nome do realizador ficar-lhe-á também associado por ter sido o mais jovem fotógrafo a ser contratado pela Look: Kubrick tinha 17 anos quando captou a expressão melancólica de um vendedor de jornais lendo a notícia da morte de Franklin D. Roosevelt. Enviou a foto à revista, que a comprou por 25 dólares, cerca de 15 euros, e a publicou na edição de 26 de Junho de 1945. A foto acabou por dar a Kubrick um emprego a tempo inteiro na revista como repórter fotográfico. Por lá trabalhou até 1951.

O espólio fotográfico da Look foi doado à Biblioteca do Congresso americano e das cerca de 300 imagens que Kubrick captou enquanto fotógrafo profissional, mais de 100 estão disponíveis na colecção do Congresso. Devido ao interesse provocado pelo facto de ser uma faceta menos conhecida do realizador, essas fotos encontram-se catalogadas à parte e legendadas. Outras fotos importantes de Kubrick – a reportagem fotográfica sobre «os contrastes da cidade de Chicago» – podem ser encontradas no Museu da Cidade de Nova Iorque. (fonte: Wikipédia).

Para um fã de Kubrick, é espantoso vislumbrar nos trabalhos fotográficos duas características presentes no seu cinema: em primeiro lugar, o sentido de pose. Quem já viu Shining e, sobretudo, Laranja Mecânica, compreenderá o que isto quer dizer: o primeiro plano do gang ultra-violento de Alex, bebendo copos de leite «artilhado» enquanto os seus elementos olham fixamente a câmara, os gestos reduzidos ao mínimo, quase estilizados. Esse sentido de pose – controlo, se calhar – que caracteriza a forma como filmava os seus personagens desenvolveu-o na Look, fotografando actores famosos como Montgomery Clift para ilustrar artigos em que se descrevia o «perfil» do fotografado.

Depois temos outra faceta na fotografia de Kubrick que se relaciona directamente com o seu cinema: a imagem em que captou uma banda de jazz em acção. Temos o elemento musical, na verdade o extremo bom gosto de Kubrick, sempre extraordinário na escolha das peças musicais para a banda sonora dos seus filmes: quanta gente não associa Dawn – a secção de abertura de Thus Spoke Zarathustra, de Richard Strauss – apenas ao filme 2001: Odisseia no Espaço? Quantos realizadores usariam experimentações sonoras vanguardistas de Ligeti num filme de ficção científica ou o adagio de Music for Strings, Percussion and Celesta, de Bela Bartok, num filme de terror? Por falar nisso, os fãs de Kubrick e visitantes mais recentes poderão gostar de um post que escrevi sobre as músicas de 2001: Banda Sonora do Cosmos.

Nessa foto com a banda de jazz vislumbra-se aquela característica peculiar em Kubrick que é a de transmitir ao espectador uma noção quase tridimensional do espaço: no cinema usava muitos travellings, efeitos labirínticos com lentes grande angulares, steady cams (foi o primeiro realizador a fazer uso desse tipo de câmaras, no filme Shining). No caso da fotografia, ela é especial porque não existe pose, apenas movimento: vemos o casal sentado a conversar, alheio à música, depois olhamos para o trompetista e é como se estivesse a tocar diante de nós, tal é o ângulo em que é fotografado, o baterista lá atrás, pequeno como o copo que vemos em primeiro plano, a perspectiva da sala.

Todas estas observações sobre a relação entre as fotos e o cinema de Kubrick podem ser lidas numa excelente página biográfica dedicada ao realizador. Esta foto, já agora, faz parte da reportagem sobre os «contrastes de Chicago» que a Look encomendou a Kubrick em 1949.







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