O termo “pós-moderno” foi popularizado no início da década de 1980, com ampla utilização na música, no teatro, nas artes visuais, e nas mais variadas esferas de cultura, para designar as tendências estéticas posteriores a uma modernidade, então concebida como acabada ou ultrapassada. A expansão de uso do conceito de pós-modernidade coube ao filósofo francês Jean-François Lyotard, com a publicação de “A condição pós-moderna” de 1979.
Em sua origem o pós-modernismo significava a perda da historicidade e o fim da “grande narrativa”, o que no campo estético significou o fim de uma tradição de mudança e ruptura, o apagamento da fronteira entre “cultura de elite ” e da “cultura de massa” e a prática da apropriação e da citação de obras do passado.
No cinema, é difícil definir a pós-modernidade, assim como a própria modernidade, pois a arte inteira do cinema é moderna, ou pós-moderna, conforme os pontos de vista. Vários críticos tentaram projetar na história dos filmes uma periodização primitiva/clássica/moderna/pós-moderna, retomando os velhos esquemas da história da arte.
O pós-moderno é então concebido como uma reação contra os valores da modernidade. Ele se caracteriza, no cinema, pelo gosto da citação, da intertextualidade em geral, pela criação de personagens complexas ou de narrativas sem personagens, pela ligação do cinema com o espetacular etc.
Há diversos ícones do movimento pós-modernista nas artes. Nas artes plásticas foi Andy Warhol e a Pop Arte, o fotorrealismo, e o neo-expressionismo. Na música John Cage, mas também a síntese entre os estilos clássicos e popular que vemos em compositores como Philip Glass e também o punk rock e a new wave. No cinema Godard, na literatura William Burroughs, Thomas Pynchon e o “nouveau roman” francês e seus sucessores.
Na sociedade, a chamada pós-modernidade aparece como uma espécie de renascimento dos ideais banidos e cassados por nossa modernidade racionalizadora. Esta modernidade teria terminado a partir do momento em que não podemos mais falar da história como algo de unitário e quando morre o mito do progresso.
Os ideais da modernidade foram responsabilizados por toda uma onda de comportamentos, de atitudes irracionais e desencantamentos em relação a política, e ao crescimento do ceticismo face aos valores fundamentais do homem. Foi estigmatizada por essa excessiva confiança em uma razão, nas grandes narrativas utópicas de transformação social, e o desejo de aplicação mecânica de teorias abstratas à realidade. E falhou em todos esses aspectos. Assim, o pós-moderno é um adeus à modernidade e ao tipo de razão que deu origem a duas grandes guerras.
Quem acredita hoje em dia que todo real é racional como dizia Hegel? Que esperança se pode depositar no projeto da razão quando sabemos que tudo é submetido ao jogo de mercado? Como pode o homem ser feliz no interior da lógica do sistema, onde só tem valor o que funciona segundo previsões de lucro e onde seus desejos, suas paixões, necessidades e aspirações são racionalmente administrados e manipulados pela lógica da eficácia econômica, que reduz tudo e todos ao papel de passivo consumidor?
Para Fredric Jameson , o pós-modernismo também aponta a sobreposição entre as teorias do pós-modernismo e as generalizações sociológicas que anunciam um tipo novo de sociedade, conhecida como sociedade pós-industrial. Ele argumenta que qualquer ponto de vista a respeito do pós-modernismo na cultura é ao mesmo tempo uma posição política, implícita ou explícita, com respeito à natureza do capitalismo multinacional globalizado de nossos dias.
Se o modernismo foi caracterizado por “imagens de máquinas”, podemos dizer que o pós-modernismo é caracterizado por “maquinas de imagens”, como a televisão, o computador , a internet e os shopping centers.
A relação entre as escalas de valores, que orientam a ética do passado moderno e o presente pós-moderno, são nítidos, quando dirigimos o nosso olhar para o que é público e o que é privado.
No moderno, os sintomas de obscenidade de exploração sexual ou de exploração no trabalho, operavam sempre no oculto, eram relegados aos subterrâneos da vida social. Hoje, na sociedade ocidental pós-moderna, operam mecanismos de promoção da visibilidade do que era privado. Essa visibilidade de cenas tende a ser obscena, quando exclui a dimensão da subjetividade e da privacidade das pessoas. Anula-se a dimensão do privado, tornando tudo público.
Segundo Freud, a doença da era moderna era a histeria, onde ocorria a teatralização do sujeito, incapaz de suportar tanta repressão, originada no conflito psíquico. O mal estar pós-moderno, é visível e trivial, expresso na linguagem do cotidiano do trabalho compulsivo, muitas vezes vendido como se fosse lazer, ou ócio criativo, que gera estresse, perversão, depressão, obesidade e tédio.
Na sociedade pós-moderna a perversão se vê livre para se manifestar em diversas formas, como na violência urbana, no terrorismo, nas guerras ideologicamente consideradas justas. A razão cínica é cada vez mais instrumentalizada. Isto é, não basta ser transgressivo, é preciso construir uma justificativa moral para atos imorais ou perversos.
Na pós-modernidade a perversão e o estresse são sintomas, resultados da falta de lei, da falta de tempo, e da falta de perspectivas de futuro, porque tudo se desmoronou, do muro de Berlim a crença nos valores. Tudo se tornou demasiadamente próximo, promíscuo, sem limites.
No ego pós-moderno tudo vale. Todos sentem a obrigação de se divertir não importando os limites de si próprios e dos outros. As pessoas se sentem no dever de se vender e de fazer tudo que os outros fazem, e o senhor invisível que nos manda é o super-ego pós-moderno. Ele manda você sentir prazer naquilo que você é obrigado a fazer, para não ser estigmatizado pelos seus pares.
Bibliografia:
Jameson, Fredric. Pós-modernismo. Edit. Ática. 1991
Anderson, Perry. As Origens da pós modernidade. 1999. edit. Jorge Zahar.
Harvey, David. A condição pós moderna. Edit. Loyola. 1992
Zizek, Slavoj. Arriscar o impossível - Conversas Com Zizek. Edit. Boi tempo. 2008
Aumont, Jacques e Marie, Michel. Dicionário teórico e crítico de cinema. Edit. Papirus. 2001
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